O fato de que em apenas seis meses no cargo a presidente Rousseff viu dois de seus principais ministros renunciarem, o governo herdou de seu antecessor, Lula da Silva (da Casa Civil e da Presidência, Antonio Palocci, uma espécie de primeiro Ministro e dos Transportes, Alfredo Nascimento) cairam sob os escombros da corrupção política.
Tem que perguntar por que os sociólogos neste país, onde a impunidade dos políticos corruptos está passando a idéia de que todos são ladrões e que ninguém vai para a cadeia, justamente agora em que está em voga em todo o mundo o movimento de indignação, porque os brasileiros não sabem reagir à hipocrisia e falta de ética de muitos daqueles que os governam? Porque não se importam que os políticos que os representam no Governo, Congresso, estados ou municípios, são sabotadores descarados de dinheiro público? Perguntam-se também muitos analistas e blogueiros políticos.
Mesmo jovens, trabalhadores ou estudantes, até agora ninguém apresentou a menor reação à corrupção daqueles que os governam. Curiosamente, o mais irritado com o roubo de fundos públicos por políticos, parece ser a primeira presidente mulher, a ex-guerrilheira Rousseff, que tem demonstrado publicamente o seu desagrado pelo "descontrole" em curso nas áreas de governo. A presidente já lançou o seu governo, e diz que não extirpou dois ministros-chave, com o agravante de que foram herdados de seu sucessor, o popular Lula da Silva, que lhe pediu para mantê-los em governo.
Hoje a imprensa refere-se à Dilma como empenhada a desfazer-se da "herança maldita" dos hábitos do passado de corrupção. E o povo de rua porque não faz eco crescente ao movimento dos indignados? Por que não mobilizar as redes sociais?
No Brasil, após a ditadura militar, foram às ruas por causa das “diretas já” para exigir o retorno às urnas, um símbolo da democracia. Assim o fez para forçar a saída do presidente Collor do cargo antes de as acusações de corrupção contra ele. Mas hoje o país está mudo diante da corrupção em curso. As únicas causas capazes de levar as ruas mais de dois milhões de pessoas agora são os homossexuais, os seguidores de igrejas evangélicas na festa de Jesus e aqueles que pedem a liberalização da maconha.
Será que os jovens não terão nenhuma razão para exigir que o Brasil seja uma nação mais rica (ou menos pobre), mais desenvolvida, maior força internacional, mas também menos corrupta nas suas dimensões políticas, mais justa, menos desigual, onde um vereador não ganha até dez vezes mais do que um professor e um deputado centenas de vezes, ou que um cidadão comum após 30 anos de trabalho, aposenta-se com 650 reais (400 euros), enquanto um funcionário do governo com 30 mil reais (13.000 euros).
Brasil em breve será a sexta maior economia do mundo, mas por enquanto ainda está na fila em termos de desigualdade social e direitos humanos. Ele ainda é um país onde as mulheres estão autorizadas a fazer um aborto, o desemprego das pessoas de cor atinge 20%, contra 6% dos brancos, e a polícia é uma das mais violentas do mundo.
Há aqueles que culpam a apatia dos jovens pelo o fato de que uma propaganda bem sucedida os convenceu de que o Brasil agora é invejado por todo o mundo (e é em outros aspectos) ou que tirar da pobreza 30 milhões de pessoas têm sido levados a acreditar que tudo está bem, sem entender que um cidadão de classe média européia equivale a um rico aqui.
Outros culpam o fato de que os brasileiros são um povo pacífico, pouco dado aos protestos, que gostam de viver feliz com o que eles têm e eles trabalham para viver e não vivem para trabalhar.
Isto também é verdade, mas ainda não explicam por que, num mundo globalizado onde você sabe instantaneamente o que está acontecendo no planeta, começando com os movimentos de protesto de milhões de jovens pedindo democracia e acusá-los de ser degenerados, Brasileiros não lutam pelo seu país que além de ser o mais rico, pode ser também mais justo, menos corrupto, mais igualitário e menos violento em todos os níveis.
Assim é o Brasil que os honestos sonham em deixar para seus filhos, um país onde as pessoas não perderam o gosto de desfrutar o pouco ou muito que eles têm, mas que seria ainda melhor se um movimento de indignação se levantasse capaz de limpar a escória de corrupção que atingiu todas as esferas de poder.
Texto traduzido pelo Blog. – Fonte Jornal El País – Espanha
Foto ilustrativa
“Pegou mal transformação do ladrão Dimas em santo, péssimo exemplo para os políticos do Brasil, todos acham que serão salvos mesmo roubando.” (Daniel MM)
29 de julho de 2011
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É a Lei de Gerson, meu caro Daniel.
ResponderExcluirTodo mundo quer levar a sua vantangem...
Muito bom Daniel.
ResponderExcluirO Brasil tem indignados, mas, poucos se motivão a fazer algo, e, os poucos que protestam são pouco vistos e menos ainda seguidos ou tomados como exemplo.
Não sei o que é pior, saber que o Brasil poderia ser muto melhor se não houvesse toda essa corrupção comendo grande parte do rico imposto arrecadado nesse Brasil altamente produtivo ou o Brasil ser visto na imprensa estrangeira como um país corrupto em que o povo, além de votar mal é ignorante a ponto de não saber o mal que a corrupção faz ou de acreditar nessas maciças propagandas e incapaz de protestar.